Há mais de 100 anos atrás, no dia 18 de novembro de 1918, a APEA, que era a Federação Paulista de então, anunciava a suspensão do Campeonato Paulista devido à epidemia de ‘Grippe Espanhola’.

Quando olhamos isso sob o ponto de vista histórico não temos a dimensão da situação, ou não tínhamos. A dose de realidade da Covid-19 atual nos faz ao menos tentar entender o que nossos antepassados passaram.

Segundo o jornalista Rubens Ribeiro, a APEA resistiu, pois, a comunicação do governo teria vindo antes e: “outro fato que aborreceu os dirigentes da APEA foi que a fiscalização não agiu da mesma forma com circos, teatros, cinemas, de ambientes fechados e de maior risco.”

Em outubro, antes do início de um jogo, agentes da vigilância sanitária cancelaram a partida para evitar a propagação da gripe.  O campeonato só voltaria em dezembro, finalizando-se em janeiro de 1919.

 Numa época sem a conectividade de hoje, as notícias viajavam mais devagar e o desconhecimento levou a números surpreendentes, como estes do final de 1918:

Cidade População Gripados Óbitos Óbitos/dia
São Paulo 410.872 152.657 2.756 30,6
Santos 94.841 24.954 662 6,3
Campinas 89.146 2.874 41 4,5

Com o campeonato interrompido, os clubes ofereceram suas dependências para auxiliar no combate à epidemia. O Palestra Itália cedeu sua sede na Rua Libero Badaró para a Cruz vermelha, que instalou 30 leitos. Logo após, o Paulistano também instalou 150 leitos em sua sede, nos Jardins.

No retorno do campeonato a APEA baixou uma nova resolução que diminuía o tempo de jogo para 35 minutos por tempo para “não expor os atletas a desgastes que poderiam leva-los a contrair a gripe.”

O Interior também sofreu. A primeira edição do Campeonato do Interior, que seria disputada em 1918, acabou sendo adiada e só se iniciou no fim de março de 1919. O calendário só seria ajustado em 1921, que teve uma edição em março (a de 1920) e outra em novembro.

Que possamos entender o momento, aprender com o passado, e ter uma abordagem mais séria que diminua as consequências do surto. Que a Covid-19 se vá o quanto antes e que tenhamos o nosso futebol – e a nossa vida – de volta.